Teria sido o escritor inglês Anthony Burguess alguma espécie de vidente ou simplesmente um escritor atento ao mundo e preocupado com curso da história?
É que em1962 Burguess lançou o livro “Laranja Mecânica”, que mais tarde, em 1971, pelas mãos de Stanley Kubrick, virou filme. Tanto o livro quanto o filme homônimo contam uma história que se passa num futuro incerto, em que uma gangue de adolescentes liderada por Alex (no filme interpretado por Malcolm Mcdowell), dissemina a violência, ou “ultraviolência”, pelas ruas.
Alex e seus amigos representam aquilo que hoje se denomina tribos urbanas. Essas tribos são marcadas por uma homogeneidade, principalmente nas roupas e expressões que usam, são estereótipos de suas representações. Em “Laranja Mecânica” as roupas brancas futurísticas e os chapéus são os uniformes excêntricos dos personagens. E, para diferenciarem-se do restante da sociedade, o grupo de delinqüentes desenvolveu expressões diferentes, agregando alguns termos da língua russa ao inglês, criando, dessa forma, neologismos, palavras que fazem sentido apenas dentro daquela gangue.
O recado, ou vaticínio de Burguess pode ser visto hoje a todo o momento, as tribos se proliferaram, principalmente nos grandes centros urbanos. Muitos desses grupos são pacíficos, mas carregam os estereótipos bem definidos, como os “Emos”, que são facilmente identificados pelas roupas góticas, maquiagem no rosto, cabelos com penteados exóticos, além de um comportamento sexual variado. Por outro lado, para outros grupos ficou a violência como característica, é o caso dos Pitt-boys, que, apesar de serem, normalmente, lutadores de alguma arte marcial, não usam nenhum tipo de vestimenta especial que os diferencie, sendo apenas as atitudes agressivas para os definir.
A designação tribos urbanas, muito utilizada quando nos referimos a essas representações sociais, é nova, mas se levarmos ao pé da letra, podemos fazer analogia com o grupo descrito pelo escritor inglês, pois além de usarem roupas iguais e criarem um mundo particular e hermético, são violentos, o que nos faz pensar em canibais.
Na verdade, o termo tribos urbanas começou a ser usado pelo sociólogo francês Michel Maffesoli em 1985, pois, segundo ele, "seriam essencialmente "micro-grupos" que, forjados em meio à massificação das relações sociais baseadas no individualismo e marcados pela "unissexualização" da aparência física, dos usos do corpo e do vestuário, acabariam, mediante sua sociabilidade, por contestar o próprio individualismo vigente no mundo contemporâneo.”
Pertencer a um grupo se tornou necessário, a idéia de exclusão passa a ser aceita quando, mesmo inserido dentro de um contexto social, não se é aceito num seleto grupo. Com isso as tribos se proliferam, tomam as ruas, vagam pelas cidades, e comprovam que Alex foi apenas o precursor, mas que seus seguidores se multiplicaram e que, mesmo em diferentes estilos, conservam a essência de ser um “drug”.
Por Carlos Júnio
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
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